O rombo financeiro das Americanas de R$ 50,1 Bilhões

Seguindo um ritmo intenso de reuniões ao longo das últimas semanas, avançam as negociações dos termos do acordo que poderá encerrar um dos maiores litígios da história corporativa brasileira. 

Passado o estresse inicial (quando as partes “mostraram os dentes” tentando aumentar seu Poder de Influência para sentarem-se à mesa em melhores condições), controladores e credores seguem firmes nas negociações relativas à situação das Americanas. 

Relembrando: no início do ano, assim que o rombo bilionário veio à tona, a oferta inicial de aporte emergencial do trio de principais acionistas (Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles) irritou e inicialmente não foi bem “deglutida” pelos credores. No entanto, com o passar do tempo, a proposta (que envolvia o aporte R$ 7 bilhões, sendo apenas R$ 6 Bi desse considerado “dinheiro novo”, uma vez que já havia sido feito um crédito inicial de R$ 1 Bi) foi sendo “metabolizada”, o que fez com que o sentimento de frustração fosse substituído pela percepção de que, ao menos, existia uma negociação de fato em andamento. Isso serviu de combustível para que as partes seguissem em frente, após o longo período de quase 40 dias em que imperou uma verdadeira aridez de informações e iniciativas.

Em que pese as recentes ações que reforçaram a imagem da empresa junto ao público, os credores têm interesse de caminhar rapidamente, posto que a demora pode vir a deteriorar ainda mais a situação existente. 

A empresa permanece em meio a um processo de recuperação judicial, com dívidas financeiras da ordem de R$ 50,1 Bi junto aos credores (bancos, debenturistas e detentores de dívida externa). 

O temido relatório jurídico que estava sendo elaborado pela varejista foi divulgado recentemente. A avaliação é de que, embora a ex-diretoria da companhia tenha sido considerada culpada pela fraude de seu balanço (conforme fontes a par do assunto, consultadas pelo Valor), as negociações não devem ser impactadas. Isso significa que não houve a interpretação, ainda segundo fontes, de que haverá uma mudança em relação ao valor devido ou ao rombo do balanço da varejista.

O desenho do acordo que vem sendo negociado prevê o recebimento de uma parte do valor à vista, outra em novos debêntures (títulos de dívidas) e a última em ações.

Ainda segundo o que está na mesa de negociação, a primeira etapa do processo ocorrerá a partir de um leilão para compra de parte das dívidas, já tendo sido estabelecido o desconto mínimo de 70% em seus valores. Nesse leilão, quem aceitar o maior percentual de desconto sai à frente – a consequência esperada é que a concorrência (demanda) tenderá a forçar para cima o percentual de desconto. 

Quem se dispuser poderá vender até a totalidade de sua exposição ao ativo, sendo esperado que esse movimento atraia, principalmente, os detentores de debêntures e de dívida externa. No entanto, já se percebe certa movimentação desses últimos, justamente por não concordarem com o percentual de partida de desconto.

Já o segundo movimento para equacionar o restante das dívidas após o leilão seria mais complexo – pelo atual desenho, o pagamento seria dividido em três “fatias”. O detalhamento e termos dessa fase, no entanto, ainda não são públicas.

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